Seguindo os passos da criação do mundo por Deus através da "contração" (tzimzum) está a doutrina luriânica da "quebra dos vasos" (shevirah). Os dois estão conectados. A primeira forma que assume a emanação da “contração” é a de Adam Kadmon (“homem primordial”). No sistema de Isaac Luria, as dez Sefirot ("emanações") tomaram forma pela primeira vez no Adam Kadmon na forma de círculos concêntricos. O círculo mais externo, Keter ("coroa"), permanece em contato com o Ein-Sof ("o Infinito"). Isto compreende a nefesh (“a alma”) do “homem primordial”. Na próxima etapa, as dez Sefirot se reorganizam na forma de um homem e seus membros. Este corpo “espiritual” serve de elo entre o Infinito e a hierarquia dos mundos ainda por vir.
Luzes brilham na testa e nos olhos desta figura primordial e configuram-se em padrões ricos e complexos. Alguns assumem a forma de cartas; outros assumem outros aspectos da Torá, como cantilações, pontos vocálicos ou afixos de escribas. Aqui dois simbolismos diferentes – luz e linguagem escrita – estão unidos. Essas luzes se combinam para formar nomes que têm o poder de serem ativados no drama da criação. Essas luzes estão nitidamente contidas nos recipientes atribuídos às três Sefirot superiores, mas as luzes que atingem as seis “emanações” inferiores – da “bondade amorosa” (chesed) à “fundação” (yesod) – são fortes demais para serem ser mantidos por navios individuais. Um por um eles quebram, espalhando-se e caindo em pedaços. Parte da luz retorna à sua fonte, mas o restante é arremessado para baixo, formando as kelippot ("forças das trevas") do "outro lado".
Esses fragmentos de luz são a fonte da matéria grosseira. Assim, o processo ordenado de criação parece ser negado, pois nem as luzes nem os recipientes permanecem no seu devido lugar. Porém, Luria entende que o rompimento dos vasos não foi um processo caótico, mas sim condizente com as leis internas. Na verdade, a presença das raízes das “forças das trevas” é percebida como a verdadeira razão interna para o rompimento dos vasos. Os vasos são quebrados a fim de preparar o caminho para recompensa e punição nos mundos inferiores que surgirão na última fase da criação.
A ruptura dos vasos e a criação do “homem primordial” são conceitos complexos e difíceis. O resto da Cabala Luriânica é dedicado a restaurar e reintegrar a estrutura cósmica – um processo chamado tikkun.